quarta-feira, 21 de abril de 2010

Bebida, cigarro e sacanagem!!!

Depois dizem que na televisão só passa lixo e tragédia. Tsc, tsc, tsc! Não é bem assim.... De vez em quando a telinha prega umas peças na gente. E ontem, para mim, ela fez com que a gente se esbofeteasse.

Bom, lá estou eu, no recanto do meu lar (depois de cumprir a maratona trabalho-faculdade), ainda pensando no drama mexicano de Helena (Taís Araújo) e Bruno (Thiago Lacerda) da novela Viver a Vida, quando comecei a me entediar vendo surgir na Tela nada Quente, o filme Duro de Matar 4.0... Dando graças ao céu pelo fato do homem ter inventado o controle remoto, tratei logo de fazer um tour na minha magnifica tv aberta e tive o prazer de ver começar o programa Custe o Que Custar (CQC), da Rede Bandeirantes. Muitos já conhecem o programa. Alguns definem como humor intelectual; outros dizem que só baboseira de um careca.... e por aí vai. Se vc ainda não definiu o estilo do programa, por favor, assista (tem um monte de vídeo no Youtube) e vai saber do que estamos falando.

E qual foi o grande momento do programa de ontem? Ahá... foi a bofetada que nós recebemos dentro da nossa própria casa. Bom, todo mundo está cansado de saber que é PROIBIDO a venda de bebidas álcoolicas, cigarros e revistas pornográficas para menores de 18 (dezoito) anos. Quando vimos reportagens de bares, espeluncas e restaurantes que descumprem esta lei, nós, cidadãos conscientes da nossa posição na sociedade, nos armamos de pau e pedra e sentamos o sarrafo do salafrário que vende pinga para o menor. Pois bem, ontem o CQC apresentou o quadro "Cidadão em Ação", onde menores de 12 e 13 anos (atores contratados) paravam as pessoas nas ruas e pediam que elas fossem comprar o que eles não podiam: bebidas, cigarro e revista pornô. Acreditem, a maioria nem questionou... foi lá, comprou e deu aos meninos. 

O primeiro pedido era para comprar cigarros. Um senhor, ao ser abordado, parou e escutou os meninos (que estavam divididos em duas duplas em diferentes pontos)... Quando ouviu com atenção o pedido se negou e foi embora. Em seguida, uma mulher achou que não ia ter nada demais um pivetinho daqueles fumar um cigarrinho, pegou o dinheiro e foi lá. Voltou uns dois minutos depois relatando o que aconteceu entre ela e o segurança da padaria (onde ela foi comprar o cigarro): "Olha, o moço ali viu e disse: se a senhora estiver comprando para eles, eu vou chamar a polícia para a senhora". Aí ela devolveu o dinheiro aos garotos e foi-se embora. Daí em diante, todos os abordados foram lá comprar os cigarros, e os que não foram comprar, abriram seus bolsos, bolsas, tiraram um cigarro e ainda ofereceram fósforo à dupla de guris. Uma das mulheres, depois de dar o cigarro, quando foi abordada pelo repórter Danilo Gentil, disse que deu porque ficou com medo deles assaltarem ela, mesmo sem eles terem mostrado nenhuma arma ou atitude intimidadora. "Nunca se sabe, né?!", respondeu a cidadã.

Na hora de comprar as revistinhas de banheiro não foi diferente. Tirando um ou dois que se negaram, todos os outros foram lá e compraram.... teve aqueles que inclusive, disseram que queriam olhar também. E não se enganem... não foram apenas homens.... uma mulher, empurrando um carrinho de bebê, foi lá, comprou a revista, pois na sacola dela, se afastou da banca e entregou na mão da criançada. Pergunto eu: quando aquele bebê que estava no carrinho, se recusar a ir à escola para ficar no banheiro com uma revistas dessas, será que essa mãe vai assumir que tem culpa ou vai achar que o filho tá na idade da safadeza e que a televisão é que incentiva (mostrando bundas e peitos em qualquer horário)??? Nunca se esqueça: a culpa não é nossa!

Com as bebidas não foi diferente... os meninos acharam fácil fácil quem fosse dar uma mãozinha para eles. No segundo momento do quadro, os próprios guris foram comprar o que queriam (bebida e cigarro) e eu nem preciso digitar aqui qual foi o resultado. Alguns vão me dizer que não é bem assim, afinal, vídeos da tv são editados antes de ir para o ar... Em resposta, digo que a questão não é essa... a questão é quem alguém comprou... podia ter sido um só... aí eu até dizia que era um cidadão com desvio de carácter... mas não foi o caso.

E qual foi o grande tapa que recebemos??? Ora, nos nossos discursos prontos por um mundo melhor, sempre dizemos que a culpa por todos os males é dos governantes, do sistema ou da sociedade (lembrando que "sociedade" aqui é algo extraterrestre, lá pelos lados de Júpiter... já que, mesmo culpando a sociedade, nós não temos culpa nenhuma), e ontem isso foi desmitificado bem na nossa cara... fomos nós: eu, você, o vizinho, o parente próximo e todas as pessoas comuns que conhecemos que facilitaram a difícil entrada da criançada ao mundo adulto. É minha gente... no ritmo que a coisa vai nós estamos ferrados.

Eu confesso que até senti uma certa felicidade ao ver a reportagem. Sempre digo (em textos da Internet e em conversas com os amigos) que nós preferimos ficar confortavelmente sentados, afiando bem a língua para cair de pau e pedra nas aberrações do mundo, e muita gente discorda horrores alegando que nós não podemos fazer nada... Ontem eu fui contemplada com o poder da razão (huahauhaua). De fato, admito que todos estão preocupados demais com a própria vida (inclusive eu) e que cada vizinho que cuide da sua grama. Mas dizer que somos totalmente isentos de tudo que acontece no mundo é muita cara pau. Eu, você e todo o bando dos "faz-nada" para mudanças (sociais, políticas e econômicas), temos sim muita culpa no cartório. As eleições vem aí para, mais uma vez, emitir nossos certificados.

Até a próxima!

P.S: Este texto foi iniciado em 20/04/2010 e finalizado na manhã de 21/04/2010.

1 comentários:

Dai disse...

Nega...eu vi o programa realmente um absurdo sem precedente....incrível como nós "brasileiros" somos hipócritas e mentirosos, muitas das pessoas que compravam os cigarros e bebidas para os jovens depois quando questionados pelo repórter mentiam dizendo que nunca fariam tal coisa.
Enquanto a sociedade - pessoas comuns - base da pirâmide não agirem de forma coesa e digna, como podemos cobrar dos políticos - como podemos questionar e nos indignar com a corrupção?